quarta-feira, 6 de julho de 2011

Noite daquelas.

Acordou, dedos doendo. Os nós deles ainda cheios de vermelhidões. Uns dois com feridas. O peito doía também. Mais que os dedos apesar de não ter sinais de briga qualquer. Doía dentro. Não do lado de dentro, tipo pulmões ou costelas. Mas, fundo. Na verdade, profundo. Doía-lhe o peito. Ferido, cansado. Estava cansado. Não do dia corrido na agência ou da noite trabalhada, fotografando. Uma das suas paixões, fotografia. Paixão. Esse era o problema. Ou parte dele. Amor, paquera, paixonites efêmeras. Outros pedaços do problema que poderia ser resumido em três letrinhas. Um ê, um éle e um á. Quatro letras no caso, o que pluralizava suas dores de cabeça. Elas. Romances, peguetes, amigas de uma vida inteira. Solução? Ficar longe delas, todas. Virar um monge eunuco ou gay por conveniência. Ainda não estava doido o suficiente pronto para escolher nenhum dos dois. De pintos, só se dava bem com o próprio, o que o desmotivava bastante a arrancá-lo.

Problema também era ele. Apesar da visão bem esclarecida do mundo, e do tato bem desenvolvido, tinha o (péssimo) costume de não usá-los muito quando se tratava dele e de suas relações. O que o tornava um merdeiro. Pra sorte dele, de ocasião apenas.

A bunda sentada contra o sofá onde dormira. Mãos esfregando os olhos sonolentos. A ressaca. Não de álcool já que não bebia enquanto fotografava. Decisão motivada principalmente por duas razões. Não precisar ficar com duvida se o desfoque estava na sua objetiva ou na sua cabeça e evitar que quebrasse algum equipamento. De novo. A ressaca dele era pior do que a causada pelo álcool. Ate por não poder colocar a culpa na bebida. Ressaca moral. Junto com a vergonha alheia, um dos males do século. Tinha feito, pensado e falado coisas que não podia. Na real podia, claro, mas não deveria. Ouvido coisas que não queria. Problemas e enxaquecas. Culpa dele. Culpa delas também, vai. De todas, a que mais lhe doía o peito e a cabeça era saber que ela estava chateada com ele. Decepcionada, pior. Pior, por algo que não tinha nem ao menos feito. Com a fama, deita na cama, diria o ditado. Tinha deitado. Com outra. Qualquer.

Bebalhaça, nem o ouvira descontando no saco de areia pendurado ao teto. Descontando nas mãos agora marcadas, doloridas (não tanto quando o peito). Vacilão, retrocesso. “Quanto amor”, pensava ele enquanto socava. A música alta ecoando dos fones para os ouvidos. Os braços ardidos de ácido lático. O peito suado, cansado. Peito doído.

Vestia a camiseta agora, de manha já. Passou pela porta do cômodo. Ela, a qualquer, estirada, desmaiada na cama. Também não para menos. Depois de tudo que tinha bebido. Do tanto que dançara. Na boate primeiro, na pista, rebolando. Na cama depois, sobre ele, rebolando mais ainda. Embaixo dele. Ele dentro dela. Suada. Fora. Mordendo e arranhando. Dentro. Dentro e fora uma e mais outra vez. Transando, derretendo. No mínimo achava que as fotos tinham ficado boas.

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